4 comentários em “O Último Dia de um Poeta

  1. “Sou hoje o homem-prosa, vivo terra-a-terra, livre das quimeras que me atordoaram e nas quais não encontrei senão dissabores” indica a minha admiração pela obra machadiana, e nesse conto tais palavras mostram o que Machado de Assis analisou da alma humana em toda a sua percuciência, a farsa, falsidade, hipocrisia, a sua crítica deslavada à alma humana, a responsabilidade do homem com sua própria vida. Viver terra-a-terra lhe foi proporcionado pela prosa, nela encontrou a seiva necessária para assumir sua própria identidade, estar livre das quimeras – seria as quimeras referências ou metáforas dos romantismos de Machado mesmo, auto-crítica ao poeta mesmo, autocrítica aos seus romances de início de carreira – liberta-o dos dissabores, melancolias e nostalgias, eleva-o a outra dimensão de seu próprio eu.

  2. Viver terra-a-terra significa estar de frente com a realidade, vivenciar as contradições, dores e sofrimentos, assumir toda a pujança que habita a alma, viver a própria identidade. Isso podemos observar num de seus mais famosos contos, O Alienista, quando Simão Bacamarte liberta todos da Casa Verde, aqueles que, para ele, eram loucos, e ele mesmo se tranca. Assumiu que o louco era ele próprio. O viver terra-a-terra é um tema que aparece sempre na obra machadiana, envelado por suas críticas às aparências, hipocrisias, farsas, falsidades, conforme o seu estilo sarcástico, irônico, cínico – quer dizer os seus personagens são sempre de caráter e personalidade escusos, são arbitrários, gratuitos, usam de todos os meios possíveis e impossíveis nas tramóias,
    nas viperinidades das atitudes e ações, justificam-se, explicam-se, fogem de si mesmos; o viver terra-a-terra se encontra nas entre-linhas da obra, é a chamada que Machado de Assis faz aos homens, devem eles buscar mudanças, transformações, modificações em suas condutas morais, éticas, mergulharem profundo em suas almas e buscar encontrar nelas suas virtudes e valores. Não se pode, deve-se atribuir a Machado de Assis um moralismo, ser ele moralista, na verdade, na verdade, ele é crítico assaz da moralidade.
    Manoel Ferreira (Escritor – Nascido em Curvelo, Minas Gerais.

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